terça-feira, 24 de janeiro de 2017


“Se faz caminho ao andar”



Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)


Com esta frase de um poema do escritor Antônio Machado , espanhol falecido no México como exilado, queremos refletir sobre a importância do ato de caminhar.n Adriano Labucci diz que o caminhar implica num triplo movimento: não nos apressar, acolher o mundo e não nos esquecer de nós mesmos no caminho. O mesmo autor acrescenta mais adiante: não existe nada mais subversivo, mais alternativo ao modo de pensar e agir hoje dominante.

De fato caminhar é resistir, e colocar de novo em contato os pés na terra, para viver em constante êxodo e resgatar a condição de andarilho. É acreditar no convite de Deus a Abrão: Lekh lekhà (vai-te) e como Enzo Bianchi, comentou; vá até você mesmo, uma viagem por tanto interior e externa como missão e tarefa. São Francisco foi nominado pelo seu biógrafo, Tomás Celano, um feliz viajante e nos ensina o caminho da alegria, simplicidade e comunhão com todas as criaturas. Dorothy Day se iniciou na oração e na justiça social caminhando nos subúrbios operários de Chicago e Nova York.

O irmão Roger de Taizé nos propõe caminhar com confiança e mansidão para a unidade. Martin Luther King fez várias caminhadas defendendo a dignidade e a justiça racial lutando contra a discriminação. Mas quantas pessoas anônimas como uma velhinha de camisa azul e tênis surrado, que caminhava levando nas costas a seguinte frase: peregrina da paz, 25000 milhas a pé pela paz; fazem-nos entender a profecia deste gesto?

Ela tinha deixado tudo, uma posição confortável bens e moradia para caminhar conhecendo pessoas e passar a mensagem da paz e do amor. Caminhar não só é uma atividade muito saudável, mas plenamente humana porque nos insere no mundo, e nos faz recuperar a percepção verdadeira do espaço e do tempo. Quando caminhamos clareamos o sentido da vida, o para onde vamos e qual o objetivo da nossa missão. Aprendemos a profunda sabedoria daquele pensamento de Mahatma Ghandi: não há caminho para paz, a paz é o próprio caminho. Finalmente gostaria de afirmar que o caminhar é uma experiência de profunda trascendência e misticismo porque nunca caminhamos sozinhos, mas na companhia daquele que se apresenta não só como amigo e irmão da jornada, senão o próprio Caminho que leva ao Pai, Jesus Cristo o ponto de partida e de chegada da nossa peregrinação na Terra. Deus seja louvado!
 

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